A alternância do poder estaria, assim, para o organismo social e para a cidadania como oxigênio renovado no sentido do aperfeiçoamento das instituições, pelo saudável exercício da concorrência do contraditório. O continuísmo e a perenização no poder por um determinado grupo, líder ou facção, ao contrário, fazem o papel dos ateromas calcificados nas paredes das artérias sociais e da representação popular, que acabam por enfartar todo o organismo político de um país, depois de certo tempo esclerosando-o. Trecho da crônica "O aperfeiçoamento democrático" de Nelson Paes Leme, Cientista Político, para O Globo, no dia 22/10/2010.
Neste momento devem estar se perguntando, ou que este trecho retirado do O Globo tem haver com este blog. Digo, pode até não ter tudo haver, mas contém uma referência essencial com a situação do hóquei. A essência da crônica nos fala a respeito da relação continuidade e alternância do poder, no sentido de comando, e quão benéfica esta alternância pode ser diferentemente do que vem sendo apregoado.
Ou seja, escrevi mais um parágrafo e ainda não expliquei a vocês a relação com o hóquei. Mas, vejo não só uma relação com nosso esporte, mas também com o Desporto de uma maneira geral. Sempre pensei que o tempo indeterminado no comando pode construir certas relações de fisiologismo, no controle de qualquer instituição. Por isso sempre fui de acordo com a política de apenas uma reeleição, tal como acontece nas eleições governamentais e em países como a Espanha.
E por este mesmo motivo, sempre me perguntei porque este sistema não é implantado em outras instituições nacionais, como as confederações e federações desportivas. Limitando o tempo na presidência num período de no máximo 8 anos, favorecendo assim a alternância de comando, tema essencial da crônica supra-citada.
Não estou pregando aqui uma derrubada no comando, apesar de muitas vezes julgar isso necessário. Mas, sim estou falando sobre a possibilidade de mudanças de ares, um novo grupo. Proporcionando um trabalho novo e novas idéias.
Mudanças que proporcionariam, alguns recomeços e continuidade de aspectos positivos de gestões anteriores, pois não existe nada 100% errado ou certo. Projetos-políticos públicos tem de ocorrer de forma democrática. Voltando mais uma vez ao texto inicial, nada renova mais e oxigena a democracia do que a alternância, a continuidade engessa a instituição por dentro, gerando a profusão de figurinhas repetidas, que quando estiveram antes não deixaram saudades e por isso nunca deveriam ter voltado, ainda mais sem se reciclar.
O Brasil está cheio de exemplos, em todos os escalões do poder esta fato se repete, infelizmente. Quando um mesmo grupo "toma" o comando por tempo de indeterminado, criasse um vazio e ficamos reféns de determinadas situações. Alguém me explica como será feita a transição de orgãos como COB, CBF, entre outros?!?
Muitos devem se lembrar o que ocorreu com nosso basquete, tênis e iatismo. Vitimados por comandos irresponsáveis e "eternos". O primeiro perdeu o posto de segundo esporte do país e só agora após a mudança é que promoveu algo interessante limitando o número de reeleições para presidência, o último ficou refém de uma dívida milionária, que vinha sendo maquiada pela situação.
Podemos propor mudanças, fazê-las. Todavia, sempre será necessário oxigenar, ou seja, fazer alterações reais e factíveis e não maquilagem, temos muitos exemplos do que não deu certo. Não quero aqui posar de dono da verdade, apenas manifesto opiniões e torço para que elas tenham o mínimo de repercussão e gerem um pingo de reflexão.
Frase compilada do Twitter alheio: "a lei da ficha limpa é realmente muito boa, mas tenho dúvidas que um povo que precise de uma lei pra não votar em políticos corruptos, a mereça."
Caso queiram ler a crônica "O aperfeiçoamento democrático" de Nelson Paes Leme na íntegra basta acessar https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/10/22/o-aperfeicoamento-democratico .